Caxias
do Sul (Rio s. Marcos),
2 de fevereiro de 1938
Ana Rech
- Caxias do Sul,
12 de junho de 2006
Na madrugada do dia 12 de junho de 2006, Deus chamou
para a sua morada nosso confrade
pe. JOÃO LEONIR DALL'ALBA
Não estava agendado este evento, pois toda a Província
e Congregação estavam envolvidas na celebração do XXI Capítulo Geral, em
Fazenda Souza. Foi no silêncio da noite que
uma insuficiência cardíaca vitimou este nosso querido irmão de congregação. E verdade
que nos últimos anos a saúde dele inspirava cuidados. Nos dois meses
antecedentes à morte foi hospitalizado por duas vezes, mas em ambas demonstrou
uma rápida recuperação e pronto retorno a Ana Rech na comunidade do Colégio
Murialdo.
Pe. João nasceu em 2 de fevereiro de 1938, nas margens
do Rio São Marcos, Caxias do Sul.
Filho de Carino Dall'Alba e de Lúcia Ballardin
Dall'Alba, ambos falecidos, conheceu os Josefmos através do mano Pe. Honorino,
também falecido, e entrou no seminário em 1949,
em Fazenda Souza. Fez o noviciado em 1955, em Conceição da Linha Feijó, Caxias
do Sul e Profissão Perpétua em 1961. Realizou seu estágio em Orleans, onde foi
um dos pioneiros na construção do Seminário São José. Fez os estudos
filosóficos e teológicos na Itália onde foi ordenado sacerdote em 1966. De
regresso ao Brasil, foi enviado novamente a Orleans, em 1967, onde ficou até
1980. Neste período em Orleans, além de
dedicar-se à formação dos seminaristas, demonstrou grande habilidade na área do
ensino, não apenas dentro do Seminário, mas dedicou suas capacidades
para levar o Ensino Médio a Orleans no
Colégio Tonezza Cascais no qual foi diretor por diversos anos. Numa
autobiografia sua, falando de Orleans escreve: "Em Orleans incentivei a
cultura que muito favoreceu a transformação
da cidade. Consegui fundar diversos museus, entre eles, o Conde D Eu e o
Museu ao Ar Livre, único no gênero na América Latina". Foi participante na fundação da Febave (Fundação
Educacional Barriga Verde), hoje entidade de ensino superior, sem dizer
de outras inúmeras atividades em prol do município de Orleans. Em todas estas
iniciativas soube trabalhar sem descanso. Doou-se totalmente embora no começo
poucos acreditassem em seus sonhos e em suas tarefas. Após tantos anos dedicados à formação dos seminaristas e à
cultura de Orleans, esteve por alguns anos em Araranguá, onde, como
professor, iniciou as famosas semanas culturais.
Uma novidade na vida dele aconteceu em 1987, quando se
dispôs a participar num projeto missionário
no Equador. Partiu para novas terras, nova língua, novos costumes na missão do Napo. Foi ali que apareceram novas
qualidades no Pe João. Não apenas escritor não apenas artista, escultor,
não apenas exímio poeta, mas agora também missionário junto a tribos de índios recém chegados às nações da civilização
ocidental. Ali organizou comunidades igrejas, usando métodos de envolvimento
das pessoas, formando lideranças. Ficou no Equador até 1999. De volta ao
Brasil colaborou em Belém do Pará e depois em Ana Rech, onde veio a falecer.
Sua formação acadêmica aconteceu no Brasil com as
faculdades de Filosofia e de Letras. Fez um
estágio em Antropologia na Universidade Gregoriana de Roma. Com esta bagagem
espiritual e científica Pe. João Leonir descreve seu grande sonho: "Apenas
formado comecei a escrever, especialmente
com a idéia de ir salvando a história local de diversas comunidades e
famílias; isto especialmente no sul de Santa Catarina e no Rio Grande do Sul.
Dois livros contam a história de minha família e quatro livros a história de
Ana Rech, minha terra natal. Publiquei alguns poemas em conjunto com outros autores. Alguns de meus poemas estão em língua
italiano-vêneto e espanhol-quichua. Por um livro escrito em Vêneto,
recebi um prêmio na Itália. Já foram publicados 18 livros e cinco opúsculos.
Esperaria ainda publicar alguns livros sobre a imigração italiana da qual tenho
boas fontes e editar dois livros, escritos faz tempo: Pindorama nossa terra e
Evoluindo com Deus, a evolução vista com olhar cristão ".
Pe. João também foi escultor
deixando obras dele na Itália, no Brasil e, sobretudo, no Equador em seus
anos de missionário por lá. A maior escultura é a estátua de Santa Edwiges, com
dez metros de altura, em cimento que está em Belém do Pará na paróquia dedicada
à Santa administrada pelos Josefinos de Murialdo.
Como recordamos e recordaremos Pe João Leonir: um
homem de vasta cultura. Sempre interessado em saber mais. Um
"curioso" de novidades históricas em todas as culturas. Além de
conhecer muito bem os lugares históricos do Brasil e da Itália, não deixou de
conhecer o reduto dos indígenas no Peru (Machupicho) e no México. Sempre
procurou sintetizar e deixar por escrito suas descobertas históricas. Tinha um
prazer especial em recolher fontes históricas, objetos de significativo valor,
caminhando quilômetros e quilômetros para
gravar um fato, talvez com uma pessoa pouco interessante, mas
significativa para a história. Pesquisou milhares de documentos nos acervos históricos do Brasil, da Itália e do Equador. De fácil
contato com personalidades ligadas a universidades. Tinha um diálogo
freqüente neste campo. Sempre em busca de mais saber e de novas verdades. Não
admitia que o passado fosse esquecido, pois este explica o presente e prepara o
futuro. Foi um homem incentivador da cultura por onde passou, estimulando
outros a pesquisar a escrever, a esculpir. Muitos sonhos ficarão para serem concretizados, como o novo Museu ao Ar Livre de
Ana Rech e a publicação da história da província brasileira dos
Josefinos de Murialdo.
Como Josefino de Murialdo vamos sempre recordá-lo como
um confrade de boa companhia. Sabia brincar, ser alegre e, sobretudo, ser muito
humilde. Apesar dos sucessos em seus
empreendimentos literários e suas descobertas históricas, bem como suas
realizações em monumentos, nunca se deu ares de importância, de
superioridade. Aceitava as brincadeiras dos outros. Muito persistente em seus
projetos, defendendo-os com ardor e tenacidade, sem desanimar até encontrar uma
solução. Sempre trabalhou com recursos parcos mas não deixou de desenvolver
suas idéias ainda que demorassem um tempo. Mostrou um bom espírito de adaptação
por onde passou. Como educador mostrou seus talentos e seu apego ao carisma de
Murialdo. Educar bem os jovens para que pudessem ter um futuro brilhante.
Sua espiritualidade era simples, mas profunda. Em Deus
encontrava seu apoio e confiança,
especialmente nestes últimos tempos quando esteve constantemente perseguido por
diversas indisposições na saúde. Era grande sua vontade de continuar a
trabalhar. Quantas vezes disse: "Bem, quanto à saúde até que estou
melhor. Acho que mais um pouco de tempo eu estarei pronto para alguma atividade
mas exigente".
Como apóstolo na evangelização demonstrou apego à
verdade, bondade da escuta, acolhida no
perdão, mansidão na misericórdia. Sua pessoa atraía as crianças, adolescentes e
jovens pela simplicidade.
Diz a mana dele, Irmã Cecília: "O Leo (nome
afetivo entre os irmãos/ãs) era um sacerdote de todos. Um homem com vasto
círculo de relações que transcendiam os pequenos
limites da família. É verdade que nos últimos anos já vimos um Leo desgastado em
suas forças e energias; já ficava para trás aquele Leo cheio de vigor e de
vida, com seu caráter empreendedor, sonhando longe, nem sempre compreendido por
nós habituados a horizontes mais estritos ".
Eis um pouco do muito do pe. João: Nós queremos
agradecer a Deus porque nos enviou o Pe.
João para ser nosso confrade. Nós queremos agradecer à família que permitiu que ficasse conosco. Nós agradecemos a ele pelo
bem realizado. Certamente serão muitos os aplausos que ele recebeu e receberá
porque foram realmente muitas as pessoas que ele soube aproximar de si.
Nós nos orgulhamos de ser seus confrades, como todos os filhos de Ana Rech
devem se orgulhar porque o pe. João nasceu aqui e aqui vai ficar para ser
lembrado em nossas memórias. A síntese implica em deixar de lado tantos
aspectos lembrados por tantas pessoas que estiveram com ele na história da
vida. Concluo esta breve memória com as palavras do próprio pe. João Leonir:
"Espero ainda poder trabalhar no meu apostolado
sacerdotal e educacional passadas as minhas dificuldades atuais na saúde,
conseqüência dos muitos trabalhos do passado, não exagerados, mas superiores às
minhas poucas forças. São sonhos de quem agora está quase paralisado, mas que
ainda espera realizar bons serviços na comunidade. Com eles não vou envelhecer.
E terei passado uma vida feliz como padre, como
religioso, como mestre, como construtor, como escritor, como artista, para a
maior glória de Deus ".
pe.
Geraldo Boniatti
Provincial