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ir. Ricieri Gaetano Argenta (28/10/1914 - 16/01/2009)



Caxias do Sul - RS

* 28 de outubro de 1914

16 de janeiro de 2009


No dia 16 de janeiro de 2009, às 12h , no Hospital Saúde de Caxias do Sul, RS, com 94 anos de idade, faleceu o primeiro josefino da Província Brasileira, o confrade

Irmão Ricieri Gaetano Argenta


Família

Filho de  Paulo J. Argenta e Valentina Cosma Argenta (em memória). Nascido no dia 28 de outubro de 1914 em Ana Rech, Caxias do Sul, RS. Último  a falecer da família de 11 irmãos, dentre os quais, o  ir. Ângelo, falecido em 1998, também  Josefino de Murialdo. Deixa dois sobrinhos sacerdotes  da mesma congregação, os manos pe. Orides  e pe. Ivo Ballardin. Realizou  seus primeiros estudos em Santa Bárbara,  comunidade da Paróquia Nossa Senhora de Caravággio de Ana Rech. Desde pequeno foi sempre desportista e ativo.


Congregação

Sua longa convivência com os  Josefinos de  Murialdo iniciou  no ano de 1930, quando ingressou, como aluno interno,  no Colégio Murialdo de Ana Rech.  Ele mesmo conta como tudo começou:

Num domingo eu estava jogando futebol num campinho lá perto de casa; naquela tarde apareceram por lá os alunos internos do Colégio Murialdo de Ana Rech, todos uniformizados de escoteiro. Era um passeio dominical. Uns 30 alunos. O assintente era o Ir. José Gasperini. Esse Irmão me empolgou. Por causa da barbicha era conhecido como “el barbeta”. E me botei na cabeça de ser igual a ele.  Essa vontade me perseguiu e eu comecei a me interessar pelo Colégio Murialdo. Para conseguir uma vaga conversei  com o tio João Cosma, que trabalhava no colégio como carpinteiro; fora ele um dos construtores  do convento dos Camaldulenses de Ana Rech, aos quais sucederam os Josefinos em 1928. Disse-lhe que arrumasse uma vaga com o Pe. Agostinho Gastaldo, diretor do colégio. Conseguida a vaga, ingressei como interno no dia 21 de abril de 1930, com a intenção de ser como o Ir. José. Algum tempo depois tivemos a visita do Pe. Humberto Pagliero, que residia em Jaguarão e  era superior da Missão do Brasil. Ele insistiu  comigo para que ficasse padre e fosse estudar em São Leopoldo.

 Assim  iniciou a longa e bonita história de amor entre a família Argenta e os Josefinos  que durou mais de 80 anos. O Irmão Ricieri nasceu um ano antes da chegada dos Josefinos no Brasil, 1915, e passou a  conviver com eles  dois anos após a   chegada da congregação em Ana Rech, no ano de 1928.

 Do amor a primeira vista (esse Irmão me empolgou)  passou  à convivência, (comecei a me interessar pelo Colégio Murialdo... ingressei como interno)  e da  convivência  passou para a convicção (e me botei na cabeça de ser igual a ele, o ir. José).

Adolescente, Ricieri com 16 anos,  interno e vocacionado à Vida Religiosa na Congregação dos Josefinos.  Soube aproveitar bem as aulas   e a formação recebida dos seus   mestres: ir. José Gasparini, ir. Guerrini, prof. Vico Parolini Thompson, pe. João Schiavo, pe. Agostinho Gastaldo e outros.

Fez parte do primeiro grupo de vocacionados josfinos em Ana Rech,  juntamente com  Cornélio Todesco e Antônio Tomiello, dois  sacerdotes josefinos  já falecidos.

Em  1932 fez a Escola Militar; segundo ele, era um pouco melhor do que o Tiro de Guerra. A sede estava no próprio Colégio Murialdo e o quartel funcionava num prédio de madeira na saída para Fazenda Souza.  Sobre essa  experiência assim se refere:

Eu era o nº 6  e por ser o menor da turma me apelidaram de “Garnizé”; e era o único que tinha licença  de dormir no colégio.  Devido à minha bravura nos combates simulados fui promovido  a cabo da  esquadra. A  escola funcionava só nos finais de semana. As caminhadas de 30 a 40 km, os combates simulados semanais e a ginástica muito contribuíram para o meu desenvolvimento físico.  

No ano seguinte, dia 19 de março de 1933,  tendo como local  um anexo do antigo convento, iniciou o noviciado, tendo como mestre  pe. João Schiavo;  Ricieri era o único candidato a Irmão.  Um ano depois, em 1934 fez a Primeira Profissão Religiosa na Congregação. Foi a primeiro Josefino brasileiro que perseverou.  Seis anos depois, em 1940, emitiu os Votos Perpétuos na Congregação dos Josefinos de Murialdo. 

Durante os  75 anos de  religioso josefino desenvolveu diversas atividades e  prestou serviços  em várias comunidades  e obras da província na região de Caxias:

Parte do ano de 1934 a 1936 foi  magisteriante em Galópolis, Caxias do Sul; dava aula no colégio dos josefinos de manhã, à tarde e à noite; nos finais de semana, a cavalo, ia dar catequese nas paróquias de  Conceição, 3ª Légua e nas capelas da paróquia local.

De volta para Ana Rech, foi professor no Colégio Murialdo e assistente dos  alunos internos até 1946.

Em 1947 foi pioneiro na nova obra dos josefinos em Pelotas, RS, chamada  Abrigo de Menores Santo Antônio. Lá  permaneceu até a saída  dos josefinos daquela obra em 1953. Foi professor, prefeito de disciplina, criador e coordenador de um grupo de escoteiros, treinador de futebol e  natação. Sofreu sérios problemas de saúde. Aos deixar  o abrigo confessou: foram seis anos de trabalho duro, difícil,  diuturno,  incansável. O instituto fora transformado de uma prisão para um lar substituto.

Retornou  para Ana Rech, em 1954, onde foi professor na Escola Normal Rural.

 

Mais de 50 anos  no CTS

No ano seguinte foi transferido para o Abrigo de Menores de Caxias do Sul, hoje chamado Centro Técnico Social (CTS).  Enquanto as forças ajudaram, deu aulas de manhã e à tarde;  nos intervalos e à noite era assistente  dos  alunos do internato. Durante mais de 30 anos, de 1964 a 1997, trabalhou na secretaria do colégio; deixou a função para cuidar da saúde, permanecendo na residência da comunidade religiosa. Passou 53 anos na obra e comunidade do CTS. Praticamente, os seus  dois últimos meses de  vida  passou-os no  Hospital Saúde de Caxias  do Sul, onde veio  a falecer  no dia 16 de janeiro de 2009.


Paixão pelo E.C. Juventude  

Desportista desde pequeno, tinha uma grande paixão pelo Esporte Clube Juventude. Sempre que podia, frequentava os jogos do seu time no Estádio Alfredo Jaconi, em Caxias do Sul, RS. Até os últimos meses de sua vida ouvia os jogos do JU pelo rádio, fazia seus comentários e mantinha-se sempre muito informado também sobre os demais times de futebol.  No dia 31 de janeiro,  antes de iniciar o jogo  entre Juventude e Santa Cruz,  o ir. Ricieri foi homenageado com um minuto de silêncio. Durante a sua vida o ir. Ricieri soube fazer do esporte um meio para se aproximar  dos jovens pobres  e aproximá-los entre si.


Será lembrado

Será sempre lembrado  pela sua fidelidade e testemunho de Vida Religiosa; pelo seu bom humor e amor exigente  aos jovens;  pela sua acolhida e franqueza; pela sua laboriosidade e simplicidade; pela consideração e carinho que devotava  a seus familiares.

A sra. Verônica  Mantovani Baldasso,  atual secretária do Colégio Murialdo, que dividiu os trabalhos de secretaria  com o Ir. Ricieri, sobretudo, nos últimos anos em que ele lá esteve, dá seu depimento:

“Seus dias na secretaria eram alegres com seus afazeres de cuidar do seu pássaro, das suas violetas e não esquecendo de seus licores que fazia com muito amor. Cada dia lembrava de uma situação passada, falando de seus familiares e o quanto eram impostantes. E ao saber  da minha gravidez, ficou muito contente;  todas as manhãs trazia um lanche bem gostoso e dizia que  neste momento deveria ter uma alimentação saudável. Quem não o conhecia ficava receoso ao entrar na secretaria e ao ver um cartaz que dizia: ‘Se não tens o que fazer, faça-o em outro lugar’. Por traz daquele olhar sério estava uma pessoa íntegra, coerente, transparente, tendo sempre a franqueza como princípio; não deixava de dizer o que pensava, mesmo que todos discordassem.

Ir. Ricieri foi sempre muito acolhedor e atencioso com quem buscava o serviço da secretaria. E sempre demosntrou boa organização.


Agradecimento

A Congregação dos Josefinos de Murialdo  agradece a Deus e à família Argenta pelo presente recebido na pessoa do ir. Ricieri. Agradece a ele pelo seu testemunho de fidelidade à Vida Religiosa durante quase 75 anos (1934-2009). O Conselho Provincial agradece aos confrades e funcionários da comunidade do CTS que souberam acolhê-lho e cuidar dele, sobretudo durante seus  últimos anos de vida em que necessitava de  presença constante; agradece também aos confrades e profissinais de saúde da Casa de Repouso (OSE); dos leigos e leigos que se revezavam nos cuidados ao confrade enfermo, durante o longo período  de hospitalização.

Pedimos  ao ir. Ricieri que do céu interceda junto a São Leonardo Murialdo, São José e a Nossa Senhora para que continuem abençoando a nossa congregação e toda a Igreja.


Muito bem,  servo bom e fiel !
Vem alegrar-te com o teu Senhor !   (Mt 25,21)


pe. Raimundo Pauletti
provincial




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