Ana Rech (Caxias do Sul),
19 de setembro de 1917
Caxias do Sul, 10 de dezembro de 2005
No sábado do dia 10 de dezembro de 2005, bem
cedo, Deus chamou para si nosso querido
confrade Pe. ANTÔNIO TOMIELLO, com a idade de 88 anos, da comunidade do Noviciado
Josefino.
Tudo começou na terça
feira, dia 5 de dezembro, em Ana Rech, na terra natal do Pe. Antônio, logo após
a celebração da Eucaristia, quando sofreu uma repentina queda, tendo batido a
cabeça contra o chão, trazendo como conseqüência uma traumatismo craniano e
coma profundo irreversível. Recebeu pela última vez o Cristo na Eucaristia,
como viático para iniciar a caminhada de volta à casa do Pai Celeste que se concluiu
no sábado pelas mãos de Nossa Senhora, da
qual foi muito devoto e grande divulgador desta devoção entre o povo.
Pe. Antônio nasceu em 19
de setembro de 1917, em Ana Rech, Caxias do Sul, último de 14 irmãos,
filhos do casal José Tomiello e de Cecília Citta Tomiello. Conheceu os
josefinos desde a adolescência no ano de 1928 quando o Pe. Agostinho Gastaldo
chegou em Ana Rech, para assumir a atividade deixada pelos Cônegos
Camaldulenses. Pe. Antônio foi um dos primeiros seminaristas brasileiros e o
primeiro padre josefino brasileiro a ser ordenado em nossa Província. Entrou no
Noviciado em 1937. Fez a primeira profissão em 1938. Fez 2 anos de Filosofia em
São Leopoldo. Em 1940 foi convocado ao Serviço Militar por um ano. Fez estágio
em Fazenda Souza. Teologia em São Leopoldo com os Padres Jesuítas. Foi ordenado
sacerdote em 23 de março de 1947. Foram portanto 58 anos de sacerdócio a
serviço do Reino na Igreja de Jesus Cristo.
Uma vez sacerdote desenvolveu atividades como
professor, de Latim, Português e Inglês, com
grande competência, nos colégios josefinos de então, não deixando de exercer sua
ação pastoral na Paróquia de Ana Rech de 1960 a 1966.
Seguindo os apelos da Igreja, de um
"aggiornamento", em 1968 esteve um ano inteiro no Rio de Janeiro cursando o Instituto Superior de Pastoral
catequética. Licenciou-se em Filosofia pela Faculdade de Lorena de São
Paulo em 1981.
Envolvido por ardor missionário, colocou-se à
disposição da Província para ajudar na evangelização do povo de Brasília -
Distrito Federal, cidade recém inaugurada. Ali, desde 1969 até 1985, com outros
confrades, deu início à atual paróquia de São Paulo Apóstolo, do Guará I. Foi
pároco por muitos anos e também professor nos primeiro colégios da região, nas
periferias da nova cidade. De Brasília passou a Porto Alegre, apenas por um ano, 1986. Depois para São Paulo na
Paróquia de São Benedito de 1987 a 1992. Em seguida para o Rio de
Janeiro de 1993 a 2001. Os últimos 3 anos os viveu na comunidade do Noviciado
em Caxias do Sul- RS.
Esteve na Itália 2 vezes,
sendo que na ultima vez em 1997 ocasião da Celebração dos Cinqüenta Anos de Sacerdócio quando foi recebido pessoalmente pel o Papa
João Paulo II.
Como vamos recordar o Pe. Antônio?
Como um bom padre, forte,
com voz possante, bom cantor, sempre disponível aos trabalhos de pastoral e de
ensino, manifestando um regular otimismo diante dos desafios da vida.
Vamos recordá-lo como um
assíduo estudioso, especialmente amante da história universal, da história
nacional e sobretudo da história de nossa família religiosa. Um bom professor. De uma
memória invejável sempre guardou com precisão datas, fatos, efemérides e tantas
outras informações importantes. Colecionou e guardou com carinho notícias de
interesse da congregação e também de certas curiosidades interessantes para partilhar com o povo. Além de escrever o Livro
sobre as Origens e genealogia da Família Tomiello, colaborou com competência na
Edição do Livro sobre a História da Ana Rech.
Pe. Antônio sempre procurou atualizar-se. Como
sacerdote, sobre as verdades da igreja, para ser mais competente em orientar os
fiéis a ele confiados, durante os longos anos
em que foi pároco, ou vigário paroquial. Como vimos acima logo após o término
do Concilio Vaticano II, em 1968, pediu para participar do Curso
Superior de Pastoral Catequética no Rio de
Janeiro por um ano. Foi para ele um ano de graça ao qual se referia muitas
vezes em suas pregações. É verdade que às vezes interpretava certas verdade de
fé e de moral com uma certa condescendência, partindo de um coração que não
admitia que alguém fosse punido, condenado, maltratado, excluído. Ele
mesmo se definiu como alguém "que
possuía um senso crítico analítico, não destrutivo, mas purificador".
Pode-se dizer que ele sempre foi procurando a verdade, melhorando os
próprios conceitos na medida em que a leitura e a escuta de pessoas o levavam a
novas orientações, em relação à autoridade da Igreja, à moral, à catequese. Sua
metodologia sempre foi muito clara, buscando não deixar duvidadas na mente de
seus paroquianos. Ele mesmo dizia que todo o pastor deve sempre estar
atualizado na Sagrada Escritura, na Moral Católica, na Catequese e na História.
Nestes campos às vezes comprava polêmicas pelas suas interpretações um tanto
avançadas.
Seu coração não ficou
arraigado apenas à paróquia, mas tinha seu olhar também mais distante no Brasil inteiro e no mundo. Entre as inúmeras cartas que
escreveu aos diversos provinciais, aos superiores de Roma, descrevendo seus
pontos de vista sobre a vida religiosa e a
atuação na igreja, está uma carta do ano 1984 escrita ao então Cardeal Joseph Ratzinger,
hoje Papa Bento XVI. Nesta carta, em resumo, Pe. Antônio pede ao cardeal que não tenha medo da Teologia da Libertação e de
não condenar os que a divulgam, pois o povo da América Latina está
vivendo uma escravidão social, política e econômica. Eis o espírito mais
universal do coração do Pe. Antônio.
Pe. Antônio também foi provado na saúde e
sobretudo salvou-se milagrosamente, sendo retirado das águas por colegas, em
janeiro de 1993, num acidente de ônibus acontecido em Rosário do Sul, enquanto
ia participar do Mês Murialdino no Chile. Foi uma
provação muito difícil para ele. Foram meses de muita angústia. Uma vez
recuperado volou ao trabalho. Queixava-se ás vezes de depressão mas
sabia ajudar-se com apoio médico necessário.
Para nós também fica o exemplo missionário do
Pe. Antônio pois com coragem desde 1969, largou o sul e se entregou de alma e
corpo à evangelização das populações pobres
de Brasília, na região do Guará I. Ali como em outras paróquia onde viveu,
sempre demonstrou grande zelo
especialmente no atendimento aos doentes e sobretudo no ensino catequético.
Como dizíamos acima às vezes um pouco polêmico em algumas afirmações e
interpretações que lhe granjearam a estima da maioria das pessoas, mas também a
preocupação e certo sofrimento de outras pessoas. O atestam diversos
abaixo-assinados, alguns apoiando-o, outros reclamando dele.
Como religioso josefino
sempre teve o carinho para os mais pobres, ajudando-os em suas necessidades
espirituais e também materiais. Ele pessoalmente viveu muito pobre e obediente.
De dialogo franco, o que impressionava nele era
as inúmeras perguntas que fazia, especialmente aos confrades de passagem pela
comunidade, querendo saber do bem que estava acontecendo em outras comunidades
da província. Tinha a sabedoria de escrever todos os intens numa pequena
agenda, com um lápis, para não se esquecer de nada.
Agora Pe. Antônio está no céu, onde toda a
discussão está encerrada, gozando do prêmio
que a Providência preparou para ele em seus 58 anos de ministério sacerdotal.
Lá foi acolhido por inúmeros irmãos e irmãs que através dele receberam a
graça de Deus, a instrução e sobretudo a Eucaristia, alimento da jornada de
cada cristão.
Obrigado Pe. Antônio pelo seu entusiasmo, diria
espírito quase guerreio para defender a fé católica e sobretudo pela atitude de
não ficar acomodado diante dos novos desafios, buscando em vez a verdade, a
justiça, a paz e o amor. Descanse em Paz.
Pe. Geraldo Boniatti
Provincial
Prov. Brasileira