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P. Nebridio Bolcato (2/4/1929 - 25/3/2000)


San Germano dei Berici (Italia), 2 de abril de 1920

Caxias do Sul, 25 de março de 2000



No 25 de março de 2000, às 4:30 da manhã, na casa do Noviciado, confortado pelos sacramentos, morria placidamente o Padre Nebrídio Bolcato, com quase 80 anos de idade. Era sábado, dia da Anunciação do Senhor. Atingido nos últimos meses do ano passado por um mal inexorável, foi definhando lentamente, conservando até o fim a lucidez e os belos dotes de otimismo e jovialidade com que Deus o marcara e que ele cultivou ininterruptamente até o fim. Desenganado pelos médicos, foi assistido carinhosamente pelos confrades de sua comunidade do Seminário de Fazenda Sousa e, desde a véspera de sua morte até o momento derradeiro, também por outros confrades e pelos noviços. Durante sua doença, as visitas foram sempre numerosas, especialmente no dia 19 de março, festa de São José, quando centenas de familiares dos confrades, que vinham para um dia de comemoração do Centenário de Murialdo, não deixaram de incluir no roteiro do dia da festa, uma visita ao Padre simpático e amigo .

O corpo foi velado na Capela do Seminário de Fazenda Sousa, e pode-se dizer que a tristeza cedeu lugar ao ambiente acolhedor e até festivo, dado que as missas celebradas pelos confrades se sucediam, sempre com grande afluência do povo, seminaristas, confrades, Religiosas Murialdinas e outras. Especialmente o povo da Paróquia de Fazenda Sousa marcou presença maciça, e numa das missas, numerosos presentes quando solicitados manifestaram comoventes testemunhos, sublinhando seu pronto atendimento a qualquer um deles; disseram: pároco 24 horas por dia, pároco de todos sem qualquer discriminação de pessoas, padre que nunca dizia não, padre alegre, disposto, simples, humilde, e sem nunca guardar rancor.

Fora pároco de Fazenda Sousa por 16 anos, deixando o cargo no ano passado, quando as forças já davam sinal de enfraquecimento; e todavia continuou no atendimento do povo, como Vigário Paroquial, enquanto pôde.

O funeral, no dia seguinte, Domingo 26 de março, coroou o surpreendente triunfo da véspera, trazendo a muito numerosa presença de confrades e da população. A Missa exequial foi oficiada pelo Provincial Pe. Celmo Lazzari, ladeado pelo repre­sentante do bispo Diocesano Dom Paulo Moretto que naquele dia estava cumprindo atividade pastoral no interior da Diocese. Havia numerosos confrades concelebrantes, seminaristas e noviços, fratres e irmãos, Irmãs Murialdinas e de outras congregações da Diocese e de Porto Alegre. O povo lotava totalmente o belo templo paroquial de Nossa Senhora da Saúde, inclusive no presbitério. E representações de Orleans, Araranguá, Porto Alegre, Conceição também marcavam presença. Após a homenagem incisiva e comovida do Presidente do Conselho Paroquial e das Associações paroquiais, o corpo foi transladado em longa procissão motorizada até o cemitério de Ana Rech, onde descansa no jazigo da Congregação dos Josefinos. As Missas de 7o dia na sexta-feira e no sábado seguintes encheram novamente a Igreja paroquial de Fazenda Sousa; a lembrança distribuída na ocasião trazia um pensamento de São Leonardo Murialdo: "Em qualquer lugar que haja pessoas em perigo, irmãos, jovens que sofrem, para lá eu quero correr, disposto a tudo sacrificar e a tudo dar".

Estava no Brasil há 54 anos, vividos totalmente em contínuo trabalho missionário em diversas paróquias e na dedicação às vocações nos seminários e casas de formação dos Josefinos.

Nascera na Província de Yicença (Itália), na localidade de San Germano dei Bérici, em 1920. Entrou na Escola Apostólica de Montécchio Maggiore, e após os anos de estudos ginasiais cumpriu ali o período de Postulado; em 1937/38 fez o Noviciado em Vigone; o Escolasticado em Ponte de Piave. O estágio do Magistério, já durante a II Grande Guerra que assolava a região, exerceu-o no Patronato dei Santo e depois em Riva dei Garda até 1943. Cursou 3 anos de Teologia no Instituto San Pietro de Viterbo, e aí se ordenou sacerdote, antecipando a ordenação, a pedido dos pais. Disse ele numa entrevista: "Antes de partir escreve-mos aos pais para receber a sua autorização. Os meus pais responderam por carta que estavam contentes por ter um filho missionário, porém queriam que, antes de partir, fosse ordenado padre para receberem - diziam - a comunhão, a bênção do filho e até fazer a confissão com ele. Os superiores então decidiram promover a ordenação dos teólogos do 3o ano, que depois deveriam fazer o último ano de Teologia no país de destino. O fato é que ainda não fiz esse quarto ano".

Em 13 de janeiro de 1947 o neo-sacerdote partia do porto de Gênova para Buenos Aires com a histórica expedição de 54 padres, irmãos e fratres josefinos destinados às três Províncias sul-americanas. Ao Padre Nebrídio coube o Brasil embora tivesse pedido o Equador, com outros 8 companheiros, e por via ferroviária chegaram a Caxias do Sul e Ana Rech no dia 7 de fevereiro de 1947: Padre Nebrídio foi o último remanescente desse grupo de missionários que vieram trazer um grande impulso à Província Brasileira, criada no ano anterior.

Padre Nebrídio trabalhou inicialmente em Canela, onde naqueles anos se tinha iniciado um internato, com o curso ginasial. De 1948 a 1953 é Diretor e Pároco em Conceição; ali também foi mestre de noviços no ano de 1951/52. Nos anos de 1953/ 54 foi Diretor do Seminário de Fazenda Sousa. De 1955 a 1957 foi Pároco e Ecônomo em Conceição. Foi Vigário Paroquial e depois Pároco na Obra Social São José de Murialdo, em Porto Alegre de 1957 a 1964. Em 1965, por um ano apenas, Diretor da comunidade de Araranguá e de 1966 a 1972, no Seminário de Orleans, onde foi Diretor e Ecônomo e nos últimos três anos Ecônomo. Reassume a Paróquia de Porto Alegre de 1972 até inícios de 1983. De então, até a sua morte, Pároco em Fazenda Sousa, sendo que no último ano foi Vigário Paroquial.

Em Porto Alegre, como nas outras paróquias em que atuou, Padre Nebrídio distinguiu-se por um zelo admirável pelo bem do povo, imitando a dedicação totaldaqueles párocos antigos que aprendera a admirar na sua pátria de origem. A catequese paroquial em seus diversos níveis mereceu sempre dele uma dedicação competente e eficaz, inclusive a admirável organização do ensino religioso escolar em todas as Escolas públicas da Paróquia; a animação das numerosas associações paroquiais; o cuidado e a dedicação pelos enfermos; a animação das comunidades ou capelas, inclusive das Vilas e Morros.

De sua longa estada em Orleans, inclusive de seu trabalho entusiasta e eficiente na vizinha Paróquia de Urussanga, ficaram marcas visíveis e sólidas, como as diversas capelas que ajudou a construir. Sempre confiou na Divina Providência, em São José e nos inúmeros amigos e benfeitores; no Seminário de Orleans, com lutas e sacrifícios admiráveis, completou o prédio do Seminário que encontrara apenas construído em parte, cabendo a ele o mérito de ter acrescentado uns bons % do edifício atual, mas sobretudo a igreja, com desenho original, debruçada elegantemente da colina sobre a cidade de Orleans, e que convida inclusive centenas de fiéis para a Missa dominical.

Em toda a parte por onde andou, Padre Nebrídio criou sempre sólidas amiza­des, difundiu o otimismo, semeou esperança e ajudou as famílias a vencerem com fé as dificuldades da vida e promoveu a paz. Soube sempre incentivar e participar com eficiência nas melhorias e conquistas das populações, fazendo-se portador eficiente e respeitado nos pleitos em favor de água, luz, estradas, escolas, postos de saúde, ambientes para lazer, obtendo e investindo nisso as doações que obtinha de parentes e de paróquias na Itália, mas também de sua perspicácia administrativa.

Uma das experiências mais marcantes e que o encantaram de fato foi a celebração de seu jubileu de ouro sacerdotal, em 1996, coincidindo com o jubileu do Papa. Convidado, com inúmeros outros felizardos, pelo próprio Papa João Paulo II, participou com ele do Retiro de três dias, no Vaticano, encantado com tudo o que via e ouvia; do Papa ganhou uma estola branca, adornada com as insígnias pontifícias: revestido com ela, dignamente repousando no ataúde em seu plácido e tocante sono de justo, todos os confrades, amigos e fiéis o contemplaram e se despediram dele, tocando-lhe afetuosamente as mãos e beij ando-lhe a fronte antes que baixasse à sepultura.

Os Josefinos de Murialdo do Brasil sentem-se profundamente agradecidos ao Pe. Nebrídio Bolcato pelo testemunho de fé, alegria e zelo apostólico que deixou em todos os lugares por onde passou.

Deus lhe dê o merecido descanso e o repouso eterno!

Pe. Celmo Lazzari
Provincial



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